segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A lição

Olá passado. Por muito que te tenha fechado a porta, colocado a chave em segredo e fingido seriamente a tua presença, sei hoje que ficaste do lado de dentro. Que me tenha enganado fortemente, mas és demasiado presente para te simplesmente fechar a porta. És demasiado cinzento para que possa abrir a cortina e deixar entrar o sol deslumbrante do exterior. Com isto, atiras-te também da janela todo o meu futuro. Quase todo vá, gostaria de ter alguns sonhos como lembrança na mesinha de cabeceira para me relembrar do que um dia tentei ser. Pelo meio da confusão, perdi o norte e o sul. E perco todos os dias, sempre que olho para tal porta em que, um dia, deixaste entre-aberta para que pudesse sonhar. Para que, pelo menos, evitasse andar na penumbra diária com que me batalho diariamente.
Por muito que o futuro não passe de um novo passado, seria por muitos que o desejo de vitória não saísse de casa. Que ficasse entre nós, no canto do sofá a ler o jornal e a comer os bolinhos do dia. Seria melhor ainda que fosse o novo papel de parede, lembrando até aos mais distraídos que é preciso acordar e, só depois, sonhar. E que a vontade fosse como viver. Que, por mais que se viva alegre ou revoltado, resignado ou sonhador, não se deixa de viver. E que a vontade fosse o respirar. Aquele respirar ofegante, rápido, feroz até.

Mas acima de tudo, não me deito todas as noites à espera de ser recebido pelo futuro com um sorriso na cara e uma música de embalar. Nem acordo de manhã à espera que o que sonhei se tivesse tornado realidade. É importante, talvez, acreditar que somos o primeiro passo. O segundo e o terceiro. E talvez, o quarto. Mas que, no fundo, todo este passado não seja mais do que uma lição do futuro. E essa, está na hora de aprender.

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