sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Feliz Natal

So is this Christmas
And what have you done?
Another year over,
A new one just begun.


Sim é Natal. O Pai Natal já pode subir ao seu trenó, carregar magicamente milhares de sorrisos em forma de prendas, descer pela nossa imaginária chaminé e deixar um presentinho. Pode depois descansar durante um ano, vendo sempre quem se porta bem e deixar-lhe no fim a devida recompensa.

O Natal é fútil. Ponto. Seria tenebroso alongar a sua explicação quando se transmite a falsidade de um presente em busca de uma união familiar, de um sorriso quase verdadeiro junto de uma árvore enfeitada. Tudo isto podia ser uma história de encantar, se não existisse este mundo. Este mundo no qual eu vivo, no qual eu sobrevivo e luto em forma de palavras, no qual todos sonham e poucos os seguem.

Se isto é um verdadeiro Natal, devia agora pegar no pobre junto á estação e trazê-lo para junto da sua inexistente família, dar-lhe o apoio que não consigo e por-lhe um sorriso que eu preciso. Se fosse Natal, andaria encantado em cada rua só de ver cada luz, passeando livremente sem existir toda a maldade á minha volta.

Felizmente, cada altura destas trazem um ar de verdade a todos os sorrisos criados. Até ao meu, que tende a não aparecer. Traz tudo o que o resto do ano tende a apagar, e traz o que a tradição força em manter.

Sei que a verdade é um mito, e a luta uma forma de encorajar. Mas também sei que a magia de cada falso presente traz a todos a sensação de felicidade, aquele sentimento tão caloroso e escasso por quem o mais precisa. Desejo através destas fracas palavras muitos momentos como este, ao sabor de um Natal perfeito. Desejo toda a paz, todo o real sorriso, e que o Natal não seja um dia, sejam 365.

Bom Natal

domingo, 5 de dezembro de 2010

A máscara

Sempre insisti em deixar todo este preciosismo de lado, na forte convicção de que o sentir nada teve a ver com o saber, mas sim com a ocasião. Já reclamava o tempo, severamente esquecido, que os dias são meras contagens, e os momentos são meras recordações. A ânsia de viver protegia todos aqueles vazios pouco imaginados por nós, mas deixados a descoberto em cada falha. As máscaras pouco fortes deixavam-nos inocentes, fracos e presos, sempre convictos que o nosso ser não passa de uma realidade, mas sim de um objectivo.
Juntava-se um sorriso, um olá mais prolongado, um abraço desviado ou dois dedos de conversa insultuosos, alargando a nossa falsidade a objectivos pouco claros e, por isso, vazios da nossa imagem. Aqueles vazios nunca verbalizados em amizades duradouras nem em intimidades loucas, com medo que deixem de ser vazios, e passem a ser um mar de mágoas.
O sorriso é um gesto falso. Aquele sorriso, desdenha-te em curiosidades múltiplas, que nem a tua ingenuidade o decifrará. Aquele sorriso satisfaz-te pela aparência, como uma máscara leve sobre cada um dos teus vazios. Não sabes quem eu sou, e nem eu quero saber. Adquiro o real medo da verdade, pela mentira que sabe tão bem. Tão cómoda, tão inocente, como todos aqueles sorrisos que me deixavam alegre, por fora. Um dia entrarás por detrás desta pele, e encontrarás outra, com mais enigmas que o meu ser, com mais dúvidas do que realidades, mais razões do que sorrisos.
Se um dia me olhares e criticares, acreditarei que não sabes quem sou. Se um dia me desviares o olhar, continuarei confiante no meu falso sorriso e na tua falsa razão. Sempre demonstraste o teu sorriso, e eu agradeci-te com o meu vazio.
No fim de cada momento, o tempo soube sempre permanecer intacto mesmo por detrás de cada máscara. Soube permanecer vivo em cada memória por mim esquecida, soube proteger-se da ganância e do medo, e sustentar-se na vivência. Soube agarrar-se á falsidade e deixar-me preso no meio do meu vazio, navegando em ilusões por mim criadas e levadas ao extremo. O sorriso já não encanta, a verdade já não ganha coragem, o medo persegue-nos a cada dúvida.
Se um dia o medo me conquistar, a palavra não será lida em voz alta, não irá soltar-se do tempo, e tudo será o que eu sempre fui: o vazio. Aqui escrevo, e mesmo dentro desta máscara, ouve-me, encoraja-me, que as forças perdem-se. Solta-te, o eu dentro de mim, que já não sei quem tu és, nem quem eu quero ser.