quarta-feira, 25 de maio de 2011

A porta

Oiço o teu bater da porta na força máxima do grito de revolta. Os passos pesados que se afastam mostram-me a tua vontade em ser a minha nova barreira, com a frieza habitual de quem deseja o ambíguo da distância. Soletro, assim, palavra por palavra o longo pensamento que a solidão me obriga na esperança que a porta se abra com o som que me acostumaste a ouvir.

sábado, 21 de maio de 2011

O Arquitecto

Sou um arquitecto. Tenho que construir em mim uma parede de betão, suficientemente forte para ninguém a ultrapassar, e suficientemente bem feita para salvaguardar quem eu sou.

A mão

Sentado, tudo fazia parecer que o estabilizar era um termo falso. O andar constante tornou o pensamento uma notável confusão. De repente, uma mão surgiu e aconchegou o ombro, em sinal de conforto e ânimo. Uma voz forte surgiu:

'A amizade pouco te serve em dias de guerra constante. Pouco te serve quando a confiança em teu redor parece cobrar cada passo que dás. Tudo o que imaginarás como amigo será o primeiro a surgir contra ti em proveito pessoal. O primeiro a pegar na faca e um dos primeiros a querer usá-la. Só verás um amigo entre a névoa a dar-te a mão para te levantares. A ensinar-te com uma palavra de apoio forte e discreta. A gritar contigo sempre que a agressividade for o meio necessário para te corrigir. Um amigo não é alguém vulgar, é a presença contínua, a memória até ao fim. Mas não te esqueças, o teu maior amigo és tu, e esse não te pode abandonar...'

Olhei para trás, mas pouco mais vi que um sombra a afastar-se. Tudo o que tinha sido dito parecia tão certo. Serei eu a recusa ou, de facto, a amizade nunca foi uma verdade?

sábado, 14 de maio de 2011

Escorrer assim

De tempos em tempos, a verdade escorre pelos dedos. Agarra a essência da emoção que a razão já se perdeu. Sentes, assim, que o tempo acabou. Mas vamos parar no momento, para me esquecer que alguma vez existi assim. Amanhã, o sol tem que nascer outra vez.

sábado, 7 de maio de 2011

As certezas

Nos tempos que me recordo de parar o tempo apareces constantemente a sorrir-me numa forma repetida e quase sempre perfeita. Por mais que me esforce em esquecer, a tua imagem insiste em me fazer parar o tempo e libertar palavras com pouco sentido.
Como hoje. E provavelmente o amanhã.
Se isto fosse tão normal como a chuva que bate lá fora, teria a certeza de que por esta altura não me lembraria das 11 vezes que me sorriste ontem nem do olhar tão marcante que me dirigiste quando não parava de te olhar. Certezas não as defino, mas insisto que nada de passa.
Um dia, espero, a tua imagem não passará de uma miragem. Ou como imagino, será uma parte de mim que eu não consigo esquecer.

O teu Sorrir

Ver-te sorrir entre a névoa do meu cigarro trouxe em mim prova que nem tudo se esquece. Ou que nem tudo se tenta esquecer nos padrões tão fixados de um desejo submerso entre a dúvida e o presente. Enquanto as palavras não surgem, insisto em te fixar com este olhar tão sério e sonhador que espero não chegue a ti no meu sentido tão lato, mas na leve certeza que a névoa se mantém. Incrível a forma como me mexes sorrindo na naturalidade do dia, como me ultrapassas com a forma discreta que encaras o meu olhar fixo e te centras no café sobre a mesa.
Se continuas a sorrir assim, um dia tenho a certeza do meu controlo perdido, e de que a quebra está num caminho paralelo. Arriscaria nesta dúvida se me sobrasse coragem em que um dia, de facto, sorririas sobre mim, e não para mim, como tanto insistes em fazer.
É berrante ser tão frágil perante ti quando me asseguro que forças não me faltam ao te olhar, ou ser tão inseguro quando me certifico que a emoção é a minha razão.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O tu em mim

Os tempos que te levam, fugazmente, em sentido inverso ao vento, denotam a reflexão tão emocional quanto fictícia, como o voo abismal entre o que foste e o que eu serei. A diferença pouco se nota no leve caminhar sobre a água que ambos fazemos junto ao abismo, com a atitude certa do passo em frente no recuar do tempo. Tudo o que sei resumo a estas palavras, quase mortas, com a ligeira réstia de tempestade onde a vontade é um misto do tudo no nada.