domingo, 16 de maio de 2010

Se poderia

Poderia escrever calmamente um conjunto de vontades reflectido em meia dúzia de palavras. Seria fácil compreenderes o que tento fazer a cada momento que passas por mim com um olhar longe, junto ao horizonte. Aquele olhar dominante, incrivelmente autoritário e sensível, que me faz esquecer que sempre exististe.

Poderia escrever o teu nome na areia daquela praia, reescrevendo ao passar de cada onda. O sol daria-lhe a cor que falta, e que eu próprio me havida esquecido de acrescentar. Poderia sonhar contigo sentado nessa mesma areia, numa noite longa e agradável contando as estrelas que guardavam cada desejo nosso. Os mesmos desejos que te contaria, vezes sem conta, junto ao ouvido em sentido de provocação.

Poderia raptar-te do teu mundo e levar-te para bem longe. Levar-te ao topo do mundo, ao fim de cada estrada, ao desconhecido por nós até no pensamento. Ao espaço de ninguém que tomaria-mos como nosso, escrevendo o nosso nome entre linhas numa placa bem visível. Poderia partilhar que existias, gritar bem alto o teu nome para que os novos vizinhos soubessem que existia tal beleza.

Poderia, bem junto ao infinito, acender uma vela e piscar o olho entre a restante escuridão. Enganar o medo e viver de olhos fechados, sentindo somente o teu toque, ouvindo a tua voz como se estivesses dentro de mim. Apagar o coração de velas que te rodeava e ficar a olhar para o luar que insistia em te iluminar.

Poderia esquecer tudo. Esquecer o que já não importa, e lembrar quem tu és. Lembrar do que fazes, do que insistes em marcar e da importância que tu não esqueces em fazer. Poderia até lembrar-me unicamente do sorriso que fazes sempre que não digo nada de jeito, ou da palavra que dizes sempre que fico calado.

Poder, poderia. Poderia fazer a felicidade em gestos que eu, tu ou nós ligaríamos a um sorriso. Poderia, mas não faço, porque insistes em marcar presença só na minha cabeça, e não a meu lado. Só no meu mundo, e não no teu. Porque um dia, daqueles normais, poderíamos acreditar. E eu, que tanto acredito, poderei esquecer-me que tenho que acreditar.