quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Prefácios

Sinto a fúria da recusa, o impulso da distância, a tua falsa palavra que corre nas minhas veias, como eco de um gesto perdido sobre mim. Sinto a presença do teu perfume deixada junto á porta, num figurante rasgar do passado entre linhas. Sinto a estrela, o teu brilho na minha dúvida, que paira como o muro que nunca aceitei, e a razão pelas marcas dos meus passos te recordarem o meu adeus.


Sei do decorrer dos segundos na antecipação dos sessenta minutos. Conheço bem o passar dos dias ao lado da ofegante respiração que trazes sempre me queres escutar, e avisar da noite. Ela que cai, suavemente, trazendo o infinito brilho da tua estrela, nossa estrela, a que cai e brilha, a que espanta, tu. O eu no escuro, o eu perdido, o eu como pequena estrela, e o tu como infinito.


Sinto que o vento muda de direcção a cada vontade mais insistente. O que nos leva a segui-lo sempre nos criou dúvidas, porque o erro existe. Se cada passo fosse o certo, o vento não sopraria assim, e a dúvida não nos levaria a pensar que tudo gira como queremos que ele gire. Podes imaginar a verdade no erro, eu prefiro sentir a vontade de o cometer, e de pensar que tudo não passa de um erro corrigido.


O esforço nem sempre é sinal de realização, como a tristeza nem sempre é sinal de fraqueza ou falha. O caminho nunca se mostrou complicado quando o passo dado não tem medo de tropeçar, nem nunca foi fácil quando andamos em chão de vidro. Arriscar não é coragem, é vontade de saber o desconhecido.


Pára, recomeça, interessa-te, foge, apaixona-te, define-te, encontra, cansa-te, desilude, acredita, e sente. Se tudo isto pudesse ser um verbo, seria crescer e não viver, seria respirar e não perder. Porque tudo o que queremos devia ser uma vontade, quando tudo não passa de uma conquista.


O sorriso é um gesto falso. Aquele sorriso, desdenha-te em curiosidades múltiplas, que nem a tua ingenuidade o decifrará. Aquele sorriso satisfaz-te pela aparência, como uma máscara leve sobre cada um dos teus vazios. Não sabes quem eu sou, e nem eu quero saber.


Colecciona sentimentos, abandona medos e traicções, junta alegria e coragem, contrapõe a sorte ao azar, abandona a falsidade. Porque ás vezes, nem sabemos quem somos.