quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Muralhas

Tão grande que é a muralha com que me deparo, dia após dia, robusta e marcante em olhares invisíveis mas possíveis de um dia não sentir. Cada dia que passa parece maior, mais dura e crua do que um dia foi, mais me assombra e me põe na escuridão de um dia vazio e perdido. O olhar perde-se a perceber o seu início, a memória procura esquecer o seu fim. Não há forma de a ultrapassar, de a vencer, de a esquecer. O aperto é forte, esmaga a vontade que nasce e desaparece, cada vez mais fraca.
Hoje, destruiu-me numa implosão intensa e feroz. Roubou-me o querer, o passo do longo caminho, a certeza, a possibilidade, o sonhar, o sorriso. A força já me cai, em duas lágrimas soltas, marcando como tatuagem a dor que as faz sair. Que as libertou, no meu acordar, até ao ponto de voltar a esquecer o mundo, e fechar os olhos. A muralha insiste em permanecer, cada vez maior, cada vez mais sobre mim num jogo com vencedor anunciado. Renuncio ao que sempre quis ter e ser, ao que sempre procurei e nunca vislumbrei, na busca do meu passo certo, do meu olhar, do meu abraço forte, da minha pessoa. Nunca a verdade tinha sido tão marcante em espaços curtos e directos, em falas sequenciais que me puseram fora do mapa, fora da crença comum entre todos os que procuram o mesmo que eu. Hoje, abandono a luta, ergo a bandeira branca em sinal de fraqueza, em sinal de consciência de que nada faz sentido, tudo se perde em pensamentos hiperbólicos.
A chuva cai. Espalha entre gotas pesadas e frias a sua multiplicação, a sua liberdade total. A verdade doeu, enfraqueceu o que procurava sobreviver. Acima de tudo, bati neste fundo sem perceber a saída, sem olhar para a luz e ter a vontade de a sentir. O caminho apagou-se, o sorriso não volta, a chama apagou-se. Se um dia a verdade foi necessária, este é o dia. O dia em que acordo, abro-me para esta pesada envolvente que teima em me esconder do mundo. Se um dia me apeteceu escapar destas teias que insistem em me prender, este é o dia. Resta-me trepar a muralha, quebrar passados e construir futuros, para que um dia a muralha que eu sinto me pareça tão pequena, vista de cima.


4 comentários:

Anónimo disse...

és lindo. as tuas palavras são sinceras. és tu, e só tu quando escreves. gosto muito de ti, Luisinho <3

- beijinho , Inês *

Anónimo disse...

Hum.... copiaste isto de onde???? Olha que me surpreendeste :D


Marisa - "Cabeça Loira" GRH

Estrelinha disse...

Gostei. É intenso... :)

Anónimo disse...

Que a muralha onde hoje embates, seja a escada onde amamnhã subirás.
Estarei aqui, para se possível, ajudar-te. No matter what :)

, um beijo *